Nos últimos anos, o governo estadual tem promovido ações para melhorar as condições de vida das comunidades indígenas, com investimentos em escolas, infraestrutura, sustentabilidade e cultura. Mas, como costumam lembrar as próprias lideranças indígenas, as conquistas ainda caminham mais devagar do que deveriam.
Quem são os povos indígenas do Tocantins?
O maior povo do Tocantins é o Iny, formado por três etnias: os Karajá, os Javaé e os Karajá-Xambioá. Com mais de seis mil pessoas, os Iny se espalham entre a Ilha do Bananal, as margens do rio Javaé e o território Xambioá, em Santa Fé. Suas expressões culturais, como as bonecas Ritxokò, o ritual Hetohoky (a “Casa Grande”) e festas como a do Mel e a da Alegria, são formas de passar adiante histórias que não cabem nos livros.
No norte do estado, os Apinajé, que se autodenominam Panhi, estão em municípios como Tocantinópolis, Araguatins e Lagoa de São Bento. Vivem da roça, da coleta do babaçu, da fabricação de utensílios e do artesanato com sementes e miçangas. Seus rituais, como o Mêkaprî, que busca trazer o espírito de volta ao corpo do doente, são marcados por uma relação sagrada com o corpo e a cura.
Às margens do Tocantins, na região de Tocantínia, vivem os Xerente ou Akwê, como se autodenominam — gente importante. São mais de 3 mil pessoas organizadas em mais de 80 aldeias, com uma economia baseada na agricultura e um artesanato feito com palha de babaçu, sementes e buriti. Acredita-se que a técnica do capim-dourado, símbolo do Jalapão, tenha sido ensinada por eles às comunidades negras da região, cerca de um século atrás.
Os Krahô, conhecidos como os “senhores do Cerrado”, vivem em Itacajá e Goiatins. Suas aldeias circulares têm no centro o Ká, o coração comunitário, onde se decidem os rumos da coletividade. Dividem-se em partidos sazonais — o do inverno e o do verão — e têm na machadinha de pedra Khoyré seu símbolo sagrado. Celebrações como a Festa da Batata e a Feira das Sementes mostram a força de suas expressões culturais.
Na Lagoa da Confusão, os Krahô-Kanela reivindicam sua identidade a partir da junção de dois povos Timbira: os Krahô e os Kanela. Depois de anos de migração e dispersão, conseguiram a demarcação da Terra Indígena Mata Alagada, onde hoje buscam manter sua língua e tradições.
Os Avá-Canoeiro, também conhecidos como Ãwa ou “gente”, são sinônimo de resistência. Estão espalhados por aldeias Javaé, Karajá, em Palmas e até isolados no Parque Nacional do Araguaia. Carregam uma trajetória marcada pela dispersão forçada e pela luta pelo direito de reunificação em sua própria terra, a Terra Indígena Taego Ãwa, em processo de demarcação.
Já os Pankararu chegaram ao Tocantins vindos do sertão de Pernambuco, há cerca de 40 anos. Estabeleceram-se em Figueirópolis e Gurupi, mantendo vivas suas tradições mesmo longe da aldeia de origem. Foram reconhecidos como povo tocantinense e seguem cultivando sua identidade cultural como ato de resistência e afirmação.
Desenvolvimento com sustentabilidade?
Projetos voltados para a geração de renda e sustentabilidade têm sido implantados em algumas aldeias, como oficinas de manejo do capim-dourado, buriti e mandioca. Mas ainda são ações pontuais em meio a um cenário maior de pressões sobre os territórios indígenas: conflitos fundiários, desmatamento ilegal, avanço do agronegócio e perda de autonomia cultural.
Por mais que as políticas públicas avancem, a pergunta entre as lideranças é outra: o desenvolvimento está sendo construído com os povos indígenas, ou apenas para eles?
Mais que números, presença
Em Palmas, o centro da cidade guarda um símbolo: o piso da Praça dos Girassóis traz desenhos que representam as etnias do Tocantins. É um gesto que reconhece a presença indígena não apenas como passado, mas como parte do presente e do futuro.
O nome “Tocantins” vem do tupi e significa “bico de tucano”. A palavra que batiza o estado carrega uma origem indígena, assim como o território que ela nomeia. E talvez seja essa a principal reflexão do 19 de abril: a presença indígena não precisa ser apenas celebrada. Precisa ser compreendida, respeitada e incluída em cada decisão no Estado.